A disseminação de informações falsas sobre questões científicas, de saúde e ambientais impacta a capacidade das pessoas de tomarem decisões bem informadas, além de reduzir a confiança nas instituições científicas e governamentais. Um problema que tem se ampliado de forma significativa. Em virtude desse cenário, uma equipe de pesquisadores de diversas instituições desenvolveu o relatório “Desafios e estratégias na luta contra a desinformação científica”, lançado nesta quinta-feira, dia 20.
Iniciativa da Academia Brasileira de Ciências, o relatório teve a participação de Thaiane Oliveira, pesquisadora do INCT-DSI, como uma das coordenadoras. O estudo também envolveu outros integrantes do Instituto: Afonso de Albuquerque, Raquel Recuero, Roseli Figaro e Tatiane Mendes.
Thaiane explica que frequentemente a desinformação científica explora pontos vulneráveis da sociedade, apelando para emoções, crenças pessoais e preconceitos. Entre os temas mais comuns estão as mudanças climáticas, vacinação, medicina alternativa e saúde pública. “Estes são assuntos que impactam diretamente na vida das pessoas, com sérias consequências. É o caso da recusa das vacinas, cujos efeitos na redução da cobertura já estão sendo sentidos de maneira intensa”, completa a pesquisadora.
Um dos tópicos de preocupação dos pesquisadores está relacionado ao financiamento. Muitos atores obtêm ganhos financeiros à medida que as informações falsas se espalham. “Essa verba pode vir de várias fontes, incluindo doações, investimentos privados, ou mesmo a venda de produtos e serviços relacionados à desinformação científica — a exemplo da venda de suplementos de saúde sem comprovação científica de eficácia”, traz o documento.
O relatório discute ainda formas para enfrentar a desinformação científica. Os autores esclarecem que é necessária uma abordagem multifacetada, que inclua estratégias de prebunking (prevenção) e debunking (desmascaramento), educação midiática e científica, participação civil e verificação de evidências científicas.
Quanto à participação da sociedade civil, o relatório indica como exemplo duas iniciativas de divulgação dados embasados em evidências: “De Olho no Corona!” e o “Painel dos Invisíveis”. Liderados pela organização Redes da Maré, as ações possibilitaram o acompanhamento dos casos de Covid-19 na região.
“Estamos tratando de um fenômeno de grande complexidade social, que precisa de muitas abordagens para que possamos buscar uma efetividade no combate a este tipo de desinformação”, defende Thaiane. “Entendemos que este diagnóstico é importante não apenas para pesquisadores, mas também na elaboração de políticas públicas e nos debates sobre regulação das plataformas”, finaliza a pesquisadora.
O evento de lançamento teve a participação online da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, que classificou o documento como “uma contribuição na luta contra o negacionismo que assola o Brasil e o mundo”.
O relatório está disponível aqui.
Imagem: Comunicação/Academia Brasileira de Ciências/Reprodução